A timidez isola, cria distâncias absurdas e infelicita boa parte da humanidade. Mas tem soluções; Veja quais são:
Quem nunca ficou envergonhado ao ter que falar em público? Quem nunca sentiu aquele frio na barriga antes de trocar as primeiras palavras com a pessoa que está paquerando? Este tipo de desconforto e inibição faz parte da vida das pessoas.
A timidez funciona como um "tempero" necessário à socialização do ser humano. "É muito bom ter mais cautela e até inibição em certas situações. Às vezes não falar na hora o que vem na cabeça pode livrar a pessoa de muitos embaraços", explica o psicólogo Luiz Amadeu Bragante.
Mas timidez tem limite. Quando é exagerada, pode atrapalhar o desenvolvimento infantil, social e até profissional. Estudos feitos pelo médico Jerome Kagan, especialista em timidez da Universidade de Harvard, em Boston, mostraram que de 15 a 20% dos bebês com até 4 meses apresentam sinais de timidez.
Eles estranham, ficam inquietos quando estão diante de pessoas e lugares novos. Kagan acredita que há pessoas que já nascem com uma predisposição à timidez. Mas o quadro pode ser revertido se a família estimular a atividade social e cultural da criança.
Não ligar para o que os outros pensam é um bom começo.
A timidez também pode surgir na adolescência, fruto de criação muito severa ou de uma frustração, como, por exemplo, uma vaia durante apresentação de trabalho escolar.
Normalmente, os tímidos têm voz baixa, pensam muito antes de falar, difícilmente encaram outra pessoa, não olham nos olhos, têm dificuldade para se entrosar com grandes grupos e durante aulas ou palestras não fazem perguntas, mantêm-se quietos, nos cantos.
Têm baixa auto-estima e grande medo de serem rejeitados ou taxados de bobos. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, em 1994, mostrou que 50% dos americanos se consideram tímidos - 10% a mais que em 1970, quando a pesquisa foi feita pela primeira vez.
A maior utilização de equipamentos como telefone, fax, internet e sala de chat contribui, segundo os estudiosos para o aumento da timidez. No Brasil, o psicólogo Ailton Aurélio da Silva, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo, estuda o relacionamento amoroso e a timidez.
Para ele, tímido "de carteirinha" confesso, o que mais aflige o brasileiro é o contato com o parceiro, o início do relacionamento, a paquera. Mas é possível amenizar essa inibição com auxílio de terapia ou com treinamento diário para superar os medos em situação de exposição e principalmente melhorar a auto-estima.
Os psicólogos Aílton Aurélio da Silva e Luiz Amadeu Bragante dão algumas dicas para que o tímido vença a inibição e melhore sua participação na escola, no trabalho, em uma festa, durante uma palestra e principalmente, na hora da conquista.
O caminho é estar preparado para encarar as situações novas e aumentar a autoconfiança. Na escola ele fica sempre no canto, presta atenção, mas é incapaz de fazer uma pergunta. Se há chamada oral, fica vermelho, mãos suadas. A voz é baixa, trêmula, e gaguejar também faz parte do seu repertório.
O adolescente tímido pode virar o jogo se estiver disposto a correr pequenos riscos e se expor, aos poucos, durante as aulas. "Não é necessário que ele se torne a pessoa mais expansiva do colégio, nem o centro das atenções.
Isso também não é bom", explica Luiz Amadeu Bragante. A idéia é ele melhorar sua participação durante a aula , melhorar o seu aproveitamento". Normalmente, o medo do tímido na sala de aula é ser visto como pouco intelçigente.
"É interessante o aluno começar perguntando e opinando dentro de grupos formados para trabalhos, um grupo onde ele se sinta bem", aconselha Bragante. Outro conselho do psicólogo é que a pessoa procure fazer perguntas em aulas de matérias em que tenha mais facilidade.
"Deve-se conquistar a segurança aos poucos, um passo de cada vez", ensina. Uma pesquisa americana mostrou que os tímidos normalmente se casam mais tarde e demoram mais para obter sucesso na carreira.
Atualmente, o profissional é visto não apenas pelo seu desempenho técnico mas também pessoal. O tímido normalmente tem dificuldade de mostrar sua capacidade e liderança. Para reverter esse quadro, é necessário superar o medo das críticas e expor-se mais.
O ideal é lembrar-se dos próprios méritos, da capacidade de fazer bem seu trabalho. Também é importante desmistificar o papel do chefe todo-poderoso. Não imaginar que uma opinião ou idéia poderão tirar seu emprego ou arrasar seu crescimento profissional.
No trabalho, dê idéias, ouse um pouco de cada vez.
O psicólogo Aílton Aurélio da Silva recomenda que o profissional esteja sempre bem informado sobre o andamento dos negócios na campanha, que se prepare para as reuniões, faça perguntas, dê idéias e opiniões. Mas que se desenvolva aos poucos. "O lema é a cada dia uma ousadia", informa.
Quase todas as pessoas carregam uma certa inibição na hora de fazer apresentações para pequenas ou grandes platéias. Para o tímido, falar em público pode significar um grande desafio. Noites maldormidas, só de pensar que na hora "H" a boca vai ficar seca, as mãos trêmulas e que todo mundo vai perceber que ele está apavorado.
Segundo Aurélio da Silva, é comum a pessoa tímida supervalorizar as novas situações e até as reações das outras pessoas. "O fato é que o público não chega a perceber tanto o nervosismo do palestrante" comenta.
Mais do que você pensa, a timidez pode ajudar no amor.
Para facilitar as coisas, Aurélio da Silva dá algumas dicas para que tudo corra bem na hora da apresentação. "O mais importante é estar muito bem preparado, dominar completamente o assunto".
Para ajudar, o palestrante pode usar slides, pranchetas com anotações, vídeos, algo que funcione como uma espinha dorsal da palestra e dê apoio mínimo à fala. Isso o deixará mais tranquilo.
"Comece fazendo palestras mais simples, para um número reduzido de participantes, para exposições mais fáceis e gradativamente aumente o desafio, encarando platéias maiores por um período também maior".
Com medo do que o outro pode pensar, com a auto-estima baixa e se achando muitas vezes pouco atraente, o tímido pode perder a chance de conhecer a parceira ideal ou pior, pode perdê-la para um colega porque demorou demais a se declarar.
"Se para as mulheres a timidez muitas vezes é sinônimo de qualidade e até um atrativo, para o homem pode significar um problema", comenta Aurélio da Silva. Aos poucos é possível perder a inibição e ir se aproximando da pessoa amada.
O psicólogo Aurélio da Silva ensina quase um passo a passo para quem é inibido. "Primeiro tente ficar mais perto da pessoa, usar os sinais não verbais, como olhares e sorrisos. Se isso for muito difícil, tente ser mais demorado no aperto de mão e no abraço.
Pegue na mão da outra pessoa quando ela estiver falando com você", aconselha o pisicólogo. Esses serão os primeiros sinais que o tímido pode dar para mostrar que está interessado na outra pessoa. Em caso de grande timidez, Aurélio sugere até o treinamento prévio em casa.
"Fique na frente do espelho, veja-se e treine este tipo de atitude até com uma almofada. Mantenha o pensamento positivo e saiba que a outra pessoa, mesmo que não corresponda à sua paixão, ficará lisonjeada com este tipo de atitude, de atenção.
O importante é dar pequenos passos a cada encontro", explica. O psicólogo Luiz Amadeu Bragante sugere aos adolescentes que iniciem a aproximação, um bate-papo, primeiro com garotas que não são de seu interesse para namoro.
É como um treinamento de aproximação com o sexo oposto. "Isso serve para praticar a habilidade do jogo da sedução",explica. Para as meninas, a mesma receita: comece fazendo amigos, procurando os garotos que não são alvo da paixão. Cada nova amizade ou aproximação com o sexo oposto trará mais segurança e auto-confiança.
Vá as festas, mesmo que, no início, seja só para olhar.
Muitos tímidos evitam grandes festas. Não é fácil entrar numa recepção, notar que vários grupos estão formados, pessoas rindo, se divertindo e você com a maior vergonha de puxar conversa ou entrar em uma das rodinhas.
A maioria tem medo de rejeição, de não ser bem recebido no evento social. O psicólogo americano Jerome Kagan dá várias dicas de como superar aos poucos esse tipo de timidez e e conviver bem socialmente.
Para ele, o tímido deve tentar ir às reuniões mesmo se, nas primeiras vezes, só ficar observando a movimentação. Tudo bem ficar num canto , mas aos poucos, nos eventos seguintes, deve procurar alguém com quem simpatize e tentar fazer algum tipo de comunicação não-verbal, um olhar, um sorriso ou um aceno com a cabeça.
Saiba que o público às vezes nem percebe que você é tímida.
Ao ser correspondido, o passo seguinte é convidar para um café, um sorvete. este tipo de atitude pode ser treinado em casa. Se a festa for grande e as pessoas estiverem divididas em pequenos grupos, procure por aquele onde esteja uma pessoa que você já conheça para se sentir melhor.
Preste bem atenção no assunto que está sendo falado e se tiver alguma opinião positiva e interessante, não deixe de compartilhá-la com os amigos. Helen Stalter, 36 anos, arquiteta e escritora, é falante e gosta de contar piadas.
Mas quando está entre amigos íntimos. Em grandes festas, com pessoas com quem não tem intimidade, a situação muda; sente-se deslocada, completamente tímida. "Quando chego a uma festa em que não conheço muita gente, não me sinto bem, fico no canto, falo pouco, não me entroso e acabo indo embora depois de alguns minutos", diz Helen.
Este tipo de atitude já lhe valeu a acusação de antipática. "Sou tímida desde a infância. Na escola, nunca gostei de fazer apresentações e também não era do tipo que fazia muitos amigos. A história da timidez de Helen vem de família; seu pai era tímido e a mãe superprotetora. O marido também é inibido e o filho de 10 anos está seguindo seus passos.
Para superar a inibição e a vergonha, Helen decidiu fazer terapia. "Tenho os dois lados. Sou brincalhona e adoro me comunicar. Para algumas coisas não tenho nenhum medo ou vergonha (uma fotografia sua já foi publicada, junto com uma reportagem, num grande jornal de São Paulo). Mas, quando o evento é social, tenho um pouco de dificuldade", confessa.
Hoje, ela se sente mais à vontade para falar da timidez e garante já ter mudado em alguns aspectos. Vencidos os primeiros obstáculos, Helen agora está mais atenta às atitudes do filho mais velho, igualmente tímido. Procura estimulá-lo a procurar mais os amigos e a se relacionar socialmente. "Não quero que ele passe pelo que passei", explica.
Mané Youg. 42 anos, é dono de um buffet e vive no meio de uma contradição; organiza recepções para centenas de pessoas, mas se diz tímido quando precisa apresentar-se como "dono da festa". Tenho boa capacidade de comunicação. Falo e escrevo muito bem.
A timidez aparece quando tenho que falar do meu trabalho, me apresentar em uma festa como organizador. "Youg confessa que essa inibição é a responsável pela divulgação "tímida" do seu trabalho. "Sei que tenho muita capacidade , sou bom mo que faço, mas preciso fazer com que o reconheçam. A culpada, novamente, é a timidez".
O jeito é encarar a timidez de frente e superar o medo.
Muitos dos seus amigos nem imaginam que Young se considera tímido. Quando adolescente, ele era bem comunicativo com os colegas, mas tinha dificuldades para se aproximar das meninas.
"Ainda hoje fico vermelho e envergonhado quando uma mulher me convida para jantar", confessa. Youg já foi fotógrafo, professor de Literatura em cursinho e fez teatro para tentar se soltar. "A timidez era deixada nos ensaios, durante a preparação para o espetáculo, mas antes de entrar em cena acabava recorrendo a um drinque".
Foi assim que Young começou a usar a bebida, na década de 70, como fórmula mágica para combater a timidez. "Ela me deixava completamente desinibido". Mas vivido, deixou de beber e resolveu tentar a terapia, há oito anos.
"Descobrí que era craque em fazer trabalho de graça porque assim recebia a aprovação da pessoa". Young não se abala em dizer que é tímido e deixa claro que está sempre tentando vencer essa barreira.
"Minhas experiências no teatro e como professor funcionaram como desafio. Alí eu tinha que encarar a timidez e vencer o medo de me expor". Seu conselho para quem é tímido não poderia ser outro:" Encare o medo de frente. Você só vence a timidez enfrentando-a, superando o medo. É um mecanismo perverso, mas funciona.
Fonte: Revista Criativa
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